Olá pessoal!
Desculpem o atraso na postagem, colei seus comentários abaixo.
Gostei bastante do texto da professora Raquel Kritsch, ao ler, a sensação que tive foi de estar tendo um diálogo muito agradável. Desse diálogo apresento dois tópicos sobre os quais articulei alguma reflexão.
Um abraço,
Rodrigo.
MAQUIAVEL: um diálogo com Raquel Kritisch
O primeiro tópico, que de início destacou-se, foi a relação entre o Maquiavel teórico e o Maquiavel prático. De fato, o discurso teórico no Príncipe estava a serviço de uma certa finalidade, a de "libertar e pacificar a Itália" (KRITSCH, 2001, p.181), mas, ao mesmo tempo, esse discurso teórico precisava ser consistente do ponto de vista racional.
Isso demonstra a relação sempre presente, embora nem sempre óbvia, entre a especulação racional e as crenças e objetivos de seus autores. Demonstra também que a boa especulação é aquela que preserva em seu discurso, a despeito de suas motivações, a coerência e a capacidade de convencer.
Se Maquiavel tivesse feito apenas um discurso ordinário em prol da libertação da Itália, ele não estaria sendo lido e discutido hoje, quase 500 anos depois de ter sido publicado pela primeira vez, em 1532. Esse é o traço marcante das obras clássicas, a sua perenidade, a capacidade de continuar dizendo alguma coisa, mesmo muito tempo depois de escritas.
O segundo tópico diz respeito à idéia de uma moralidade instrumental, presente no Príncipe, em oposição a uma moralidade substantiva e absoluta. Essa moralidade política deriva sua natureza instrumental do fato de estar subordinada à consideração dos comportamentos alheios e à influência destes comportamentos para a manutenção do poder.
A autora se refere a isso ao relacionar moralidade instrumental e estabilidade no poder, diz ela: "A durabilidade de um principado requer algum grau de legitimação pelos súditos, que não se rebelarão nem deporão o soberano enquanto acreditarem existir alguma razão para lhe obedecerem" (KRITSCH, 2001, p.183).
Por conta disso, o Príncipe nem sempre fará o certo, mas terá de fazer sempre o necessário, pois "Uma ética individual pode produzir santos. Mas não produz a política. Pois a ação social é aquela que se refere aos outros, e não aquela tomada em si mesma segundo a consciência de cada um" (KRITSCH, 2001, p.186).
Quando se reflete sobre moralidade como um instrumento, o resultado é sempre perturbador. Preocupado, fica-se a indagar sobre a dualidade entre ética moral e ética política e sobre os sacrifícios que esta última parece impor à primeira. Diante deste dilema, não há quem não se pergunte se seria capaz de sacrificar aquilo que julga correto por aquilo que seria necessário e vice-versa.
Dessa pergunta decorre uma outra, desta vez sobre os limites da ação política. Indaga-se: até que ponto se deve ir para conquistar e manter o poder? Uma chave para tal questão pode ser extraída do texto da autora, quando ela afirma "Arruinar-se não é só perder o poder mas também a possibilidade de realizar qualquer bem" (KRITSCH, 2001, p.185).
Concordando com a afirmação da autora, de que a detenção do poder permite realizar algum bem, é possível resgatar um propósito não apenas instrumental, mas moral, para conquistar e manter o poder. Esse própósito pode justificar os meios, entretanto, o limite a ser considerado, o momento de recuar, é quando os meios implicam no sacrifício dos fins almejados.
Um exemplo desse raciocínio, voltando aos tempos de Maquiavel, seria o caso de um princípe que, para libertar e pacificar a Itália, se visse diante da opção de entregá-la como província de uma potência maior, que empregaria então de violência constante para subjugar o país. O príncipe, nesta hipótese, estaria empregando meios que implicariam no sacrifício de seu próprio poder soberano, bem como no sacrifício do bem que gostaria de realizar.
Portanto, a política requer uma moralidade instrumental, com a condição de que esta não leve ao sacrifício do bem que se poderia realizar.
REFERÊNCIA
KRITSCH, Raquel. Maquiavel e a construção da política. Revista Lua Nova, n.53, 2001. p.181-190.
COMENTÁRIOS DOS ALUNOS
nathalia thereza disse...
Bom... eu não sei onde é p/ postar o comentário sobre o texo de Maquiavel, então vai ser aqui mesmo.Comentário: Por separar a política da ética cristã, Maquiavel foi visto como um "homem mau" ( sem falar na interpretação, muitas vezes equivocada, de sua máxima, "os fins justificam os meios"). Porém não é bem assim: Maquiavel viveu nos tempos do Renascimento, ele apenas tinha um espírito inovador característico dessa época; ele queria superar o medieval (separar os interesses do Estado dos dogmas e interesses da Igreja). No entanto, vale ressaltar que ele não rejeita radicalmente os valores cristãos e a moral, Maquiavel dizia que para o homem político, o importante é alcançar os resultados desejados, desde que não ultrapassem os limites da moralidade corrente (os limites do que a sociedade está disposta a aceitar como lícito). Exceto quando a segurança do Estado encontra-se ameaçada. Nesse caso, o príncipe pode recorrer ao que se denomina de "razão de Estado", razão pela qual o governante, em prol da segurança do Estado, pode ser levado a infringir tanto a moral corrente quanto as normas legais, em nome da manutenção da ordem interna e da segurança externa.
28 de Abril de 2009 21:15 Carlos Oliveira disse...
Professor o senhor ainda não colocou o post para por os comentários sobre a atividade de hoje(28 de abril)então eu postei aqui mesmo.É interessante ressaltar a questão da Moral e da Política. Maquiavel admite que ambas se estendem no campo da ação humana, porém se distinguem por terem critérios distintos de avaliação e justificação das ações. O critério de julgamento da ação moral é o respeito à vida humana pela regra “não matarás”. O critério de julgamento da ação política é o resultado dessa ação praticada em nome do coletivo. Isso não seria claramente a idéia de que os fins justificam os meios? Então no caso os interesses do Estado se sobrepõem aos dos indivíduos? Um Estado não deve assegurar o bem-estar de todos, tanto em relação á coletividade quanto em relação à individualidade de cada um? Se sim, então Maquiavel se baseia em Aristóteles, já que ele fala que o bem de toda a comunidade precede ao do indivíduo? E por fim, a moral e a política não teriam que “andar de mãos de dadas” para que Estado caminhe em direção a justiça? Esse é o ponto que eu queria frisar e também estas são algumas de minhas dúvidas.
28 de Abril de 2009 21:23 Renato Gonçalves de Sá disse...
Sobre o texto de Maquiavel:Na segunda metade do artigo, a autora explica que Maquiavel propõe uma distinção entre a ética individual (baseada em concepções cristãs), e as exigências de um governo. Para Maquiavel, as necessidades do Estado são superiores, e não devem se subordinar aos conceitos morais que regem a vida do indivíduo. Ele rejeita a noção de valores éticos absolutos que não levam em conta o tempo e o lugar onde se praticam as ações, e o mais importante: a que resultados elas levarão. Antes de se pensar se um movimento político é ético ou não, deve-se dar maior importância à sua eficácia.Para o homem político é necessário alcançar seus objetivos sem no entanto ultrapassar os limites de moralidade que a sociedade está disposta a suportar. Pois isso poderia torná-lo alvo da revolta de seus súditos.
28 de Abril de 2009 22:11 Marlon disse...
Já que não encontrei o post para colocar os comentários referentes ao texto, vou colocar o comentário aqui mesmo.Na página 188 uma parte importante que observei foi quando o autor disserta sobre a Fortuna e a Virtù dizendo que a Fortuna só exercerá poder onde não encontra uma virtù ordenada sendo está à qualidade capaz de dominar a Fortuna. Um príncipe que apóia-se somente na fortuna irá arruinar-se pois os tempos mudam e se não acomodar seu modo de agir com a situação irá se arruinar.
28 de Abril de 2009 22:57 Nathália disse...
Na segunda parte do artigo a autora comenta sobre o tratamento moral dado por Maquiavel à política. Maquiavel recusa qualquer ética individual absoluta como orientadora da ação política, que tem exigências próprias; o príncipe deve ser capaz de simular e dissimular e de defende a reintegração dos fins morais na ação política, mediante a reconciliação entre os valores correntes e as condições da eficácia da ação política. O que amarra todo o discurso de Maquiavel são basicamente dois pressupostos: a idéia de uma constância da natureza humana e o poder do interesse próprio na determinação dos comportamento. Maquiavel é por vezes mal interpretado por sua famosa frase "os fins justificam os meios", porém a violência não deve ser perpetuada e sim administrada para garantir a ordem e a segurança do Estado. O bem comum se sobrepõe ao bem individual.
28 de Abril de 2009 23:14 Nathália disse...
o comentario acima é de Nathália Araújo!
28 de Abril de 2009 23:16 bruno_loredo1 disse...
Não há post para comentários, então irei dissertar sobre o texto dado em sala aqui mesmo.Um aspecto importante levantado por Raquel em sua obra, é da discussão que Maquiavel faz sobre as possibilidades de ação do príncipe, ele diz que a liberdade do homem está longe de ser absoluta. Para Maquiavel, a Fortuna é o conjunto das circunstâncias que possam cercar nossas ações, e de alguma forma, determiná-las. Ela demonstra sua força, mas não encontra uma virtù ordenada. Um príncipe não pode apoiar-se exclusivamente na Fortuna, é preciso que ele se acomode o seu modo de agir à natureza dos tempos.Para Maquiavel, a qualidade capaz de dominar a Fortuna é a virtù, é saber aproveitar uma circunstância favorável. Para ele, virtù é a "capacidade de produzir história". De acordo com o autor da obra, "quanto mais desafiadora for a fortuna, maior a glória do príncipe que a dominar".Para ilustrar tal fato, ele usa como exemplo o caso da Itália da época, em que para que o país se liberte das mãos dos bárbaros, é preciso que o príncipe crie novas leis e um novo regime, é preciso também prover-se de exércitos próprios e comandá-los com virtù para resistir bem aos estrangeiros. Para concluir, de acordo com Maquiavel, não há possibilidade de ação fora da vida terrena.
28 de Abril de 2009 23:24 Natália Borges disse...
Na segunda parte do texo a autora comenta a respeito da fortuna e da virtú para Maquiavel, na qual considera que o principe que se apoia somente na Fortuna irá arruinar-se, pois Fortuna são apenas circunstâncias que cercam nossas ações,sorte boa ou má, propícia ou desfavorável, e o príncipe deve se apoiar em verdades, naquilo que é concreto e não somente na sorte, deve ter também vontade dirigida para um objetivo (o bem comum) e energia para isto. O objetivo do príncipe é manter o Estado em bom funcionamento e ao mesmo tempo controlar a Fortuna.A qualidade capaz de dominar a Fortuna é a Virtú, pois o príncipe deve sempre agir com ímpeto para dominar a Fortuna de modo favorável a segurança do Estado, mas que também tragam prestígio para si mesmo. Maquiavel conclui que o homem que possuísse a Virtú no mais alto grau seria agraciado com a Fortuna, que é caracterizada por honra,riqueza,glória e poder.É destacado também o uso da força , que é necessário, mas que deve ser complementada com a Virtú, de modo que possa haver a manutenção do poder do príncipe.Natália Borges
28 de Abril de 2009 23:47